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terça-feira, 8 de março de 2016

[RESENHA]A casa dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro

Por Amanda Medeiros

Preciso confessar que quando li este livro estava com uma expectativa além da conta já que me foi um livro muito indicado por amigos leitores e amantes deste tipo de livro. Não é segredo para ninguém que aprecio o gênero erótico, HOT, caliente ou pornográfico (esta palavra eu, particularmente, não gosto muito) onde os autores falam de sexo sem se importar com o que o leitor está achando/pensando ou ainda explicitam o desejo das personagens em um ato carnal de puro desejo.

Vamos conhecer então a história do livro:

A casa dos Budas Ditosos
João Ubaldo Ribeiro
Coleção Plenos Pecados: Luxúria
Ano: 1999 / Páginas: 163
Editora: Objetiva
Sinopse: Ao receber, segundo afirma, um pacote com a transcrição datilografada de várias fitas, gravadas por uma misteriosa mulher, o escritor João Ubaldo Ribeiro não podia imaginar o que o esperava. E o inocente leitor, que sequer pode suspeitar o que o aguarda em cada uma das páginas deste livro. Nelas se conta uma vida. E a suposta autora teria enviado seu testemunho para que fosse utilizado para o volume sobre a luxúria da Coleção Plenos Pecados. O escritor aceitou o oferecimento e o resultado final está agora diante de você. Que deve preparar-se para um relato pouco comum, às vezes chocante, às vezes irônico, sempre instigante. Na verdade, dificilmente a ficção poderia alcançar os limites do que a devassa senhora viveu e narra em detalhes riquíssimos. Se o leitor tem alguma dúvida, ela logo se dissipará, neste fascinante mergulho na vida espantosa de uma mulher sem dúvida excepcional, cuja narrativa alcança as dimensões de um retrato sociológico de toda uma cultura e uma geração, envolvendo um dos pecados mais indomáveis, e capitais.


Infelizmente eu o li com uma grande expectativa, como já mencionei anteriormente e, posso dizer que foi uma leitura um tanto quanto estranha. Nem boa, nem ruim. 

Para quem gosta desse gênero, este é um livro único. Você não achará uma história parecida em lugar algum. Primeiro porque, apesar de ser um romance publicado por João Ubaldo Ribeiro, esta é uma "autobiografia" da vida sexual de uma senhora de sessenta e poucos anos, que imagino eu, não deva gostar de ser chamada de senhora. Segundo porque, sem pudores, essa senhora narra suas aventuras sexuais de forma muito corriqueira, como se tudo o que ela fizesse fosse normal ao leitor, mas que na verdade o choca de tal forma a por realmente em dúvida alguns pontos da narrativa.
Se você gosta de romances eróticos mas ainda gosta de um romantismo, este livro NÃO é para você. Neste livro a autora ( ou autor - afinal, não se tem certeza se realmente uma pessoa entregou essas fitas a João Ubaldo Ribeiro de fato) enaltece a natureza animal do homem, trata seu corpo como se fosse um animal e tem o comportamento de uma cadela no cio (desculpe minhas palavras, mas não consegui outro termo para conseguir me expressar).

Não só eu, mas como a sociedade ocidental em geral, ainda possui muitos dos princípios católicos enraizados na personalidade tanto a nível individual como grupal. Tentamos, em geral, manter o pudor, a monogamia, evitamos o incesto já que somos humanos e capazes de pensar e construir laços amorosos com nossos parentes que não necessariamente incluem o desejo sexual e/ou carnal. 

A protagonista trata a si mesma como um mero animal, como se não houvessem vínculos. Age apenas por extinto e para satisfazer suas vontades como se não tivesse valores sociais. Claro que os valores dependem da cultura em que o sujeito está inserido e as comparações que ela faz com a cultura grega de A.C. não remete aos valores atuais. Ao meu ver, as argumentações dela são fundadas em comportamentos extintos e menosprezados pela sociedade há séculos, não fazendo mais sentido na atualidade. 

Ao fazer sexo com seu tio, irmão, cunhada, mantendo um desejo sexual pelo pai e um grande ódio pela mãe, só pude concluir que a autora tentou fazer da sua vida uma história mitológica. Nota-se grande semelhança com a História de Édipo Rei. Em termos psicanalíticos podemos concluir que a mesma possui uma grande fixação na fase genital quando se fala em desenvolvimento psicossexual. O ódio que nutre por sua mãe, nada mais é do que a inveja que possui por não poder ter relações sexuais com o pai, e para suprir esta necessidade, ela acaba ficando com o tio. Porém, como o tio NÃO é o pai, ela não consegue finalizar e concluir o ato sexual em si, permanecendo apenas nas preliminares durante anos. 

Numa narrativa feminista, a autora muitas vezes repreende a sociedade por recriminar as mulheres que fazem o que querem com seu próprio corpo, mas também aponta para a questão machista de homem ser um ser superior, quando na verdade o machismo os deixam mais fracos: 

"O próprio machismo voltou contra os machões, tornou homem prisioneiro dele mesmo, obrigado a não chorar, não broxar, não afrouxar, não pedir penico."

Uma leitura chocante na qual você deve deixar de lado seus valores e princípios morais para poder usufruí-la de maneira adequada. Como disse anteriormente, não é uma leitura ruim, porém, sim, eu sou mulher e gosto de romantismo (o que é diferente de melodrama). 


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